Escola Brasileira de Psicanálise Movimento Freudiano
Espaço de leitura:
A fantasia na experiência psicanalítica
"As fantasias possuem realidade psíquica,
em contraste com a realidade material, e gradualmente
aprendemos a entender que, no mundo das neuroses,
a realidade psíquica é a realidade decisiva."
(Sigmund Freud)
Este é um espaço aberto na Escola a todos àqueles que se aproximam da Psicanálise. As fantasias constituem elementos essenciais na experiência psicanalítica. Os destinos da fantasia e da psicanálise, revelados ao mesmo tempo por Freud, estão intimamente associados. Considera-se geralmente que Freud inventa a psicanálise quando ele se decide abandonar sua primeira teoria da origem traumática das neuroses. Freud acreditava na sua neurótica e atribuía a etiologia – a causa da neurose- a uma situação traumática primária, real, decorrente da sedução sexual da criança por um adulto. Em carta a Fliess , data de 21 de setembro de 1897, Freud rompe com essa teoria, atribuindo um caráter de fantasia aos relatos de suas pacientes sobre a sedução. As cenas traumáticas não são senão fantasias produzidas pelas pacientes no aprés-coup, a partir de lembranças infantis.
Trata-se, pois, de uma construção imaginaria de um cenário dramático, uma espécie de mise en scène de modos de satisfação (geralmente libidinais) recalcados de experiências precoces infantis. Decorre dessas considerações de Freud no início da construção de seu edifício teórico, a elaboração do conceito de realidade psíquica, nó irredutível do psiquismo e registro dos desejos inconscientes do qual “a fantasia é expressão última e mais verdadeira”.
Para Freud, a fantasia é um anteparo, uma proteção que o sujeito constrói para fazer frente ao impossível do Real. Nesse sentido, no estudo da fantasia temos oportunidade de discernir os três registros de que fala Lacan: o Real, o Simbólico e o Imaginário. A fantasia permite identificar na sua construção o Simbólico e o Imaginário de sua tessitura, sendo o Real justamente aquilo que escapa, que não é apreendido, o inassimilável, cuja irrupção é sempre traumática e provocadora de angústia.
A atual pandemia de Covid-19, com sua marca de intrusão e imprevisibilidade, é o melhor exemplo que temos no momento para falar desse registro cujos efeitos são devastadores.
Nosso estudo passou por alguns textos de Freud tais como, O poeta e o fantasiar; Fantasias histéricas e sua relação com a bissexualidade; Delírios e sonhos na Gradiva de Jensen.
Nesse ponto houve um corte, pura irrupção do Real, e o andamento do trabalho foi interrompido pela pandemia. Quando for possível retomar os encontros presenciais começaremos a trabalhar um texto princeps de Freud: Bate-se numa criança. Escrito em 1919, o texto é um estudo que revela uma profunda e renovada investigação sobre a estrutura da fantasia. Nesse texto Freud delimita na frase que dá título ao seu estudo a estrutura gramatical da fantasia. De Freud a Lacan parece haver um deslocamento da gramática da fantasia para a elucidação da lógica de sua construção, expressa no matema $◊a